segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Autumn changes


Existem mudanças! A gente que não consegue ver direito... O dia-a-dia, a correria dos afazeres e a própria adaptação ao novo que embaçam essa nova imagem. Aquela foto que você decidiu bater sempre no mesmo lugar, com a mesma paisagem, para evidenciar as diferenças das estações, já pode ser batida outra vez.

E o que se vê agora, pós praticamente dois meses de intercâmbio? Folhagem mais amarelada, algumas vezes marrom e seca, outras, vermelha e vibrante. Uma mistura de tons nova, rica, com um significado semelhante à seca do conhecido sertão, mas que ainda precisa ser melhor introjetada. É tamanha a pluralidade do cenário já tão dominante no entorno que ele quase passa despercebido, se não fosse o desacelerar (do já considerado rápido como um automóvel) caminhar de bicicleta para o caminhar à pé em Heino.

Foi voltando da reunião intensa do grupo de pesquisa do Energie of the Future, entre vontades de rever familiares e amigos com o aniversário que vem vindo (27!!! Ai, ai!), entre pensamentos em viagens com novas pessoas que se acrescentam no meio dessas diferentes nuances, que fui identificando o Outono. A preparação para um tempo mais árduo já é a própria vitória e experiência de crescimento. A referência para tal estação que, antes se fazia pelos belos tons de amarelo nas imagens do museu de Van Gogh, agora são identificadas em verdadeiros quadros 3D que transbordam ao redor, trazendo consigo a mudança de todo o contexto e que, por sua vez, reverbera em todo o interior: um mútuo rebatimento, o reflexo... uma intervenção dentro e fora, externa e interna... ao mesmo tempo, simultânea... que foi preciso revirar ao avesso para ser notada!

Nesse caminhar do local da reunião até a estação de trem, tive a sensibilidade de perceber cogumelos no chão, mas somente me permiti parar para se maravilhar e registrar esse momento após ser impulsionado pela vontade semelhante de minha companheira de pesquisa Farin. O que está me prendendo a continuar sendo turista que se encanta com cada nova esquina descoberta? Vontade de rever os velhos amigos que agora já não cabem na antiga moldura e também já estão transbordando mundo à fora como as imagens do renomado impressionista?

Há certas respostas que são evidenciadas com uma pergunta.

Separei-me do meu grupo de caminhada para seguir em direção à estação de trem, já que eles escolheram pelo ônibus. Quando finalmente estava trilhando o meu caminho sozinho e quis mais uma vez registrar, dessa vez por iniciativa própria, uma linda vaquinha holandesa que pastava tranquilamente ao meu lado fui surpreendido. Não pela ausência de bateria do meu celular que impediu a fotografia, mas permitiu a abertura da alma para gravar todo o percurso no interior. Não por isso, mas pela reação do próprio bovino: em um momento que durou uma fração de segundos fui surpreendido pelo olhar da vaquinha me percebendo na paisagem. Ela mirava a mim, ainda diferente e singular (e brasileiro), e encarava sua própria tentativa de fotografia como se dissesse: "ME OLHE! ME PERCEBA! SE PERCEBA!!!" - com essa intensidade que só a próclise da linguagem oral permite.

Logo em seguida, após essa constatação do outro, a vaca voltou a pastar tranquilamente, serena, como se mostrasse saber que a minha singularidade já se adapta e faz parte do cenário. Novas roupas (que quando presenciam 18º C já não se fazem tão necessárias por conta do calor agora sentido), novo velho grande e aprendendo a ver como mais belo cabelo! Por que todo dia que a gente resolve cortar as madeixas elas decidem acordar lindas, maravilhosas, domáveis - !!! - sem muito trabalho só para deixar o libriano indeciso do precedimento planejado? - pensamento necessário pós-pausa na reflexão Lispectoriana epifânica pela interrupção da batida na porta do meu finalmente estabelecido quarto pelo meu vizinho iraniano fofo enquanto escrevo esse post. Alguém me acompanhou? rs É porque ainda tem muito avesso para ser revirado para se fazer entender por completo.

Ainda sobre a interrupção na escrita desse post: ao me permitir partilhar essas reflexões não só no papel, mas ouvindo-me e me fazendo companhia, Mohsen me deixou mais animado a ponto de me dar apetite para comer o delicioso falafel pré-feito com catchup Heinz e margarina temperada de ovos com bacon, o que reafirma o meu costume de comer sempre em família que ainda me acompanha... Se não fosse essa pequena intervenção na porta ao lado para saber como estou no momento em que eu mesmo refletia sobre essas mudanças de outono, provavelmente "Friends" adentrariam meu recinto para me fazer lembrar das gargalhadas das minhas irmãs quando comiam e assistiam televisão comigo, deixando-me à vontade para concluir minha refeição.

Reflexão partilhada com conclusão falada em voz alta com meu próximo e agora tão colocada de lado pelos devaneios do vizinho, do lanche e do grindr com aleatórios + what´s up com a vizinha do andar de cima (Ju) + modernidades estimulando a preguiça + facebook constante + pensamentos de signos de ar. Por isso a ausência de bateria no celular no caminho à pé para a estação de trem de Heino foi tão oportuna para a reflexão. Em bem verdade, esses novos hábitos fazem parte do novo Bruno que se procura entender nesses escritos.

A evidência na mudança de comportamento pós-contato com o externo, simbolizada em um olhar de um animal, me fez interiorizar novamente a vontade de continuar crescendo e de parar para fotografar o novo em mim. Agora, vejo-me refletindo em plena sexta-feira à noite em casa (Deventer, Holanda), a espera da viagem do feriado de outono que me aguarda amanhã cedo. Essa pausa me ajudou na análise dessa vontade de continuar vivendo intensamente, mesmo nos pequenos trajetos de volta ao lar, e me impulsionam para viajar e deixar essa experiência grande.

E por que essa vontade tinha se esmorecido no decorrer do intercâmbio? A mudança interna não queria mais se fazer presente em registros como fotografias e precisou ver o exemplo de minha amiga para continuar fotografando, porque, por mais que já fosse evidenciada, ela tinha medo de não continuar mais... mudando. Perceber-se adaptado a essa mudança externa pelo olhar alheio de um animal natural desse novo meio evidencia a diversidade cearense camaleônica espalhada Europa à fora. E mesmo adaptado, continuo mudando como um camaleão, ou melhor, como um calango. A concretização dessa experiência em conjunto de intercâmbio da turma de 2009.1 de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará  me dá a certeza de que estamos aqui para sair da zona de conforto e se permitir ser turistas, ser crianças, se transformar em borboletas, como também voltar para o casulo. Tenho certeza que onde quer que estejamos, estamos crescendo.

Deixa o inverno chegar com suas intempéries, mas também deixa a mente se abrir para perceber as cores que ele tem pra lhe mostrar, sejam elas diferentes tons de branco ou não, mas sempre diferentes. O que fica é a saudade de todos, uma vontade de revê-los e vê-los pela primeira vez, pós-banho em diferentes rios. E a vontade de ver muita gente que ficou no Brasil também... Boa viagem e bom feriadão! Aproveita muito, como todo mundo diz, que o novo vem para acrescentar.

5 comentários:

  1. Mas escreveu muito em, amigo (nos dois sentidos)? Parabéns, o texto é tá sensacional. Curti e compartilhei. :)

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  2. Obrigado, amigo! Que bom que você gostou. Admito que tem que tá um pouco disposto pra ler tudo. rs Com vontade de te ver quinta!!! Acho que vai dar certo... Qual a programação pra balada, hein? hihihi

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  3. Que lindo texto amigo ... quando vc voltar vamos tomar aquela tequila e chegar em ksa as 6h da manhã ... nem se preocupe.... kkkkk Aproveite essa oportunidade única.

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  4. Muito bom o texto, amigo.
    Dá para ter boas reflexões!

    Beeeijo :D
    :*

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  5. Meu amigo, sorte da dona Holanda ter um camaleão como você enrriquecendo-a com sua singular sensibilidade!
    Te amo muito e fico imensamente feliz por ver tanto aprendizado, amadurecimento e reflexões sinceras!
    Vai que essa Europa é tua!
    Beijo da brasileirinha,
    Rebecca (snow)

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